Produção
de Cacau em Sistema Agroflorestal
Novo
Repartimento – PA
Contexto
O assentamento Rio
Gelado, localizado no município de Novo Repartimento, estado do Pará, está
situado no Km 157 da rodovia Transamazônica. O município sofre influência da
usina hidrelétrica de Tucuruí tendo apresentado histórico de remanejamento de
populações em virtude do alagamento de áreas. A área de influência da Rodovia
transamazônica teve como alicerce três principais projetos de
“desenvolvimento”: (1) o energético, através das usinas hidrelétricas de
Tucuruí e mais recentemente Belo Monte; (2) o mineral, tendo destaque a serra
dos Carajás e o ouro da Serra Pelada; (3) pecuária, dividida entre a pecuária de
corte e de leite. Tais programas criaram ao longo da história de construção da
rodovia a ampliação das desigualdades sociais, sendo identificados casos de
trabalho escravo, e passivos ambientais que se agravam até o período atual.
A assentamento Rio Gelado se conecta com essa realidade,
onde 2500 famílias assentadas trabalham
basicamente com a atividade da pecuária leiteira. A falta de tecnologias
adaptadas a realidade das famílias para melhoria da produção de leite (produzir
mais ou o mesmo em menos área), a ausência de incentivos para diversificação da
produção, as fragilidades no escoamento da produção, dentre outros fatores,
além de agravar o passivo ambiental no assentamento, limita sobremaneira o
desenvolvimento das famílias, ainda hoje reféns de uma única atividade
produtiva, em que os preços e a comercialização estão sob o controle de médios
e grandes empresários.
Descrição
da Experiência
Em meio a uma série
de limitações ao desenvolvimento sócio produtivo das famílias assentadas no
assentamento Rio Gelado, experiências inovadoras de agricultores colocam em
evidência que alternativas mais sustentáveis e mais rentáveis são possíveis e
já estão sendo colocadas em prática. A substituição da paisagem para
especialização na produção leiteira além de ampliar a degradação ambiental,
despreza o potencial dos recursos naturais
locais e de sua biodiversidade associada.
A experiência do agricultor José Antônio é um exemplo de
como o uso da biodiversidade amazônica, de forma sustentável, pode melhorar a
qualidade de vida das famílias. Seu lote produtivo possui uma diversidade de
mais de 15 espécies agrícolas e florestais, sendo o cacau a principal cultura
responsável pela geração de renda.
“Olha, no meu planejamento, daqui a 2 anos quando todos
os pés de Cacau estiverem produzindo vou conseguir tirar uma renda anual de 310
mil, sendo que 90 mil é despesa e 220 mil de renda para mim e minha família”
(José Antônio).
Essa renda estimada pelo José Antônio considera que ele
vende o quilo do cacau a 5 reais/kg para o marreteiro (atravessador), que pega
toda produção em seu lote, e sem as estruturas ideais de secagem da semente.
Como o cacau tem uma boa produtividade quando sombreado,
todo o sistema é diversificado com espécies nativas e exóticas, como: castanha
do pará, açaí, cupuaçu, mogno, niim, ipê, pupunha, bacaba, jambo, dentre
outras.
A adubação do cacau é baseada na ciclagem de nutrientes,
nenhum adubo químico e herbicida é utilizado, podendo seu cacau ser considerado
como produção orgânica, ainda que seja vendido como uma produção comercial.
A experiência do José Antônio serve de referência para o
assentamento, devendo ser melhor utilizada pela assistência técnica,
potencializando as atividades já existentes e proporcionando espaços de trocas
de conhecimento e técnicas para a construção do conhecimento agroecológico no
assentamento.
Pa Rio Gelado, agricultor que possui Sistema agroflorestal,
tem no comércio do cacau a principal renda, possui mais de 100 pés de castanha
plantado (espécie ameaçada de extinção).
Essa Experiência é uma contribuição feita por Bira, ex - integrante do grupo EVA, que hoje vem contribuindo na assistência técnica em áreas de Reforma Agrária.
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